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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A trama de Jacó para enganar seu pai

Lição 03

15 de Janeiro de 2012

A trama de Jacó para enganar seu pai

Texto Áureo

“E foi, e tomou-os, e trouxe-os a sua mãe; e sua mãe fez um guisado saboroso, como seu pai gostava”. Gn 27.14

Verdade Aplicada

A interferência humana, nos planos de Deus, só traz prejuí­zo para o próprio homem, pois Deus é poderoso para fazer cumprir os seus designíos.

Objetivos da Lição

►      Apresentar a riqueza da bên­ção de Deus;
►      Ensinar o homem a depender completamente de Deus; e
►      Mostrar que o engano traz frutos amargos.

Textos de Referência

Gn 27.15   Depois, tomou Rebeca as vestes de gala de Esaú, seu filho mais velho, que tinha consigo em casa, e vestiu a Jacó, seu filho menor.
Gn 27.18   E veio ele a seu pai e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui. Quem és tu, meu filho?
Gn 27.19   E Jacó disse a seu pai: Eu sou Esaú, teu primogênito. Tenho feito como me disseste. Levanta-te agora, assenta-te e come da minha caça, para que a tua alma me abençoe.
Gn 27.27   E chegou-se e beijou-o. Então, cheirou o cheiro das suas vestes, e abençoou-o, e disse: Eis que o cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o Senhor abençoou.
Gn 27.28   Assim, pois, te dê Deus do orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto.
Gn 27.29   Sirvam-te povos, e nações se encurvem a ti; sê se­nhor de teus irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a ti; malditos sejam os que te amal­diçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem.


A Usurpação de uma Benção (Gn 27:1-45)

Pensava-se, antigamente, que este ca­pítulo continha uma combinação de ma­teriais das fontes Judia e Israelita do Norte, mas o que os intérpretes antiga­mente consideravam como evidência de autoria dupla, os comentaristas atuais consideram como redundância caracte­rística da literatura do Oriente Próximo e esta seção geralmente como sendo da fonte Judia.

Embora Jacó e Rebeca revelassem, nos capítulos 24 e 25, muita coisa a respeito de Isaque e Esaú, aprendemos ainda mais deste capítulo. Aqui, a simpatia do leitor é focalizada em Isaque e Esaú, vítimas da astuta manobra de Rebeca e Jacó. Somos comovidos especialmente pela inofensividade patética de Isaque (v. 33) e pelo selvagem grito de angústia de Esaú (v. 34). Embora o autor das narrativas não julgue abertamente ne­nhum dos personagens, cada um deles, de certa forma, era digno de culpa, e cada pecado obteve a sua devida colheita ou recompensa. Isaque e Rebeca morreram entristecidos, Esaú perdeu a sua bênção e Jacó foi exilado.

É óbvio que 27:1-45 foi colocado entre as duas referências a Esaú em 26:34,35 e 27:46, ambas provenientes da fonte Sa­cerdotal. Embora esse escritor não fale pessoalmente da duplicidade de Jacó, e fale de ele ir para Harã como missão para conseguir uma esposa, o fato de que os editores finais incluíram o material da fonte Judia enfatiza a sua disposição de deixar o leitor saber outras facetas do caráter de Jacó. Desta forma, as fontes Judia e Sacerdotal foram consideradas não como contraditórias, mas como su­plementares.

Conspiração e Contraconspiração (27:1-17)

Não sei o dia da minha morte dificil­mente expressa realmente o que Isaque desejava dizer, pois ninguém sabe esse dia. A expressão idiomática significa: “Não sei quanto vou viver ainda.” Aprendemos, em 35:28, que Isaque morreu com cento e oitenta anos. Se a sua morte estava tão perto quanto ele supu­nha, os seus filhos já eram homens velhos, nessa ocasião. Tendo nascido quando ele tinha sessenta anos (25:25 e s.), eles teriam então cem anos de idade! Se a idade de Esaú é um indício da época desses eventos (40, em 26:34), Isaque tinha cem anos na época. Em uma idade quando Abraão havia visto o nascimento de seu herdeiro, Isaque estava perdendo o dele! Ou a cronologia Sacerdotal estava errada, ou Isaque estava preocupado prematuramente — ocorrência mais pro­vável. Não é incomum pessoas de dispo­sição débil, como a de Isaque, viverem longas vidas depois de se tomarem inca­pacitadas.

Faze-me um guisado saboroso. Speiser considera a versão da RSV inglesa (“prepara-me comida saborosa”) como “uma tradução pobre do inglês”. Ele a parafraseia, apresentando-a como “um prato festivo”. Devia ser um petisco es­pecialmente delicioso, pois foi usado o plural para enfatizar a qualidade da co­mida. É um mistério por que Isaque precisava comer esse prato antes de abençoar Esaú. Algumas pessoas suge­rem que era uma refeição sacrificial, invocando a divindade (Gunkel). Von Rad vê nela implicações mágicas (o hebraico incomum, literalmente, “que a minha alma possa te abençoar”, que também ocorre nos versos 19,25 e 31, dando a entender que ele daria a força de sua alma a Esaú). É bem possível que Isaque estivesse pensando que, tendo si­lenciado a sua consciência, ele estaria mais disposto para abençoar o seu filho depois de comer o seu prato favorito. Rebeca certamente lhe havia falado a respeito do oráculo de 25:23, que havia predito que Jacó iria ser o herdeiro da promessa.

Te abençoe diante do Senhor. De acor­do com o versículo 4, Isaque não mencio­nou o nome de Deus. Rebeca é que deu às suas palavras essa interpretação, pois sabia que essa bênção seria compulsória. A crença antiga de que as bênçãos e maldições dos pais eram compulsórias sobre os filhos está mais perto da verdade do que a nossa crença de que as palavras descuidadas têm pequeno efeito. É quase tão impossível chamar de volta uma pa­lavra dita ao filho como recobrar uma alma de entre os mortos. De fato, Rebeca revelou-se mulher de notável astúcia, que entendia bem o seu marido.

Embora Isaque amasse a caça de Esaú, Rebeca sabia bem que, na verda­de, ele não conhecia a diferença entre carne de cabra e de veado! O fato de ele gostar da caça de Esaú residia na ideia que fazia dela, e não no sabor. Isaque admirava a selvageria de seu filho, mas tinha pouco dela em si mesmo.

Serei a seus olhos como enganador. Jacó estava relutando em praticar aquele engano, não porque aquilo era contrário à sua consciência, mas porque tinha medo de ser pego. Rebeca havia cuidado de todos os detalhes. Ela bem sabia como Isaque era bisonho! Como é que Esaú podia falar com a voz de Jacó (v. 22)? Por que Isaque não tentou arrancar pêlos das mãos de Jacó? Tal simplicidade de alma não era realmente um defeito, mas uma virtude. Isaque era tão incapaz de tal duplicidade, que não a esperava dos outros. O único problema a respeito de um homem assim é que ele se torna alvo natural de todos os manipuladores.

Sobre mim caia essa maldição. Nunca um juramento se cumpriu mais dolorosa­mente. Ela haveria de perder a compa­nhia de seu filho por pelo menos vinte anos, provavelmente enquanto ela viveu. Embora seja possível que ela ainda esti­vesse viva quando Jacó finalmente retor­nou (cf. 35:8,27-29), a Escritura silencia a respeito dela. O seu pior destino foi ser deixada sozinha com um marido cego e frustrado, a quem ela havia traído.

A Bênção de Jacó (27:18-29)

O Senhor teu Deus a mandou ao meu encontro foi a mais ousada das menti­ras de Jacó, chegando às raias da blasfê­mia. No entanto, em certo sentido, ele estava certo. Por alguma razão desconhe­cida, Deus estava permitindo que ele conseguisse o seu intento com a sua duplicidade. “A história trata de um ato de Deus, que usa soberanamente o ato humano mais ambíguo e o incorpora nos seus planos” (von Rad, p. 275).

E abençoou-o (v. 23). Não é provável que Isaque tenha abençoado Jacó antes de comer. É melhor traduzir com Speiser: “quando estava para abençoá-lo”, construção que o passado imperfeito no hebraico permite, sem dúvida.

Aproxima-te agora, e beija-me foi a última tentativa de Isaque de aquietar as suas suspeitas, e foi o maior momento de ansiedade de Jacó, pois os orientais mui­tas vezes têm um agudo senso de olfato. A bênção de Isaque foi uma reafirmação da que lhe havia sido dada, mas com uma ênfase adicional em fertilidade agrí­cola e superioridade nacional. Isto, pro­vavelmente, devia-se à situação em que viviam, que era mais de residência fixa, e por isso constantemente ameaçada pe­los seus vizinhos. Abraão podia levantar acampamento e mudar-se em um mo­mento. Isaque, depois da mobilidade ini­cial, havia criado raízes.

A Bênção de Esaú (27:30-40)

Então estremeceu Isaque de um es­tremecimento muito grande; isto foi uma notável exibição de emoção. Usualmen­te, ele conservava os seus sentimentos bem escondidos, pois era um homem inteiramente disciplinado. Em resposta à descoberta de que havia sido enganado, ele exibiu uma força de caráter marcan­te. A árvore foi sacudida, mas não caiu. Ele sabia que a vontade de Deus fora feita. Tendo tentado seguir o seu próprio caminho, uma vez na vida, ele agora se resignava em ser mais uma vez o sacrifí­cio que não se queixava.

Bradou com grande e mui amargo brado. Isto e os soluços do versículo 38 são quase como o grito de alguma “cria­tura pega numa armadilha” (Skinner, citando Davidson). Jacó... me enganou. Este é um jogo de palavras com o nome de Jacó. As palavras hebraicas traduzi­das como direito de primogenitura e bên­ção são muito semelhantes: bekorati, birkati. E levantou Esaú a voz, e chorou. Antes desta declaração, a LXX introduz a frase “E Isaque ficou silencioso”, o que explica o novo irrompimento de Esaú.

Sacudirás o seu jugo. Embora Isaque não pudesse dar a bênção a Esaú, podia torná-lo livre de Jacó (Israel). Esse isola­mento mais tarde levou ao desapareci­mento de Edom das páginas da História.

O Ódio de Esaú Contra Jacó (27:41-45)

A palavra empregada para designar o ódio de Esaú foi usada, mais tarde, pelos filhos de Jacó, quando eles teme­ram que José os odiasse por terem-no traído como o seu pai havia traído Esaú (50:15 e ss.). Eles também ficaram com medo, depois da morte de seu pai, que José se voltasse contra eles. Mas ele era uma pessoa diferente. A sua fé em Deus conservava em equilíbrio a sua perspec­tiva da vida. Tanto quanto o sabemos, Esaú tinha pouca inclinação para as coi­sas espirituais.

Ele se esqueça do que lhe fizeste. Rebeca achava que Esaú era incapaz de se concentrar em qualquer assunto por muito tempo. Pode ser que ela estivesse correta, mas subestimava a memória de Deus.

Desfilhada de vós ambos. Ela podia não estar referindo-se à lei de vingança familiar, pois não havia ninguém para executá-la. Devia estar temendo que eles dois se matassem, pois seria um entrevero imprevisível. Embora Esaú fosse um caçador, Jacó foi capaz de lutar com um anjo, empatando! Rebeca percebeu que ela precisava arriscar perder o seu filho, para salvá-lo.

A Bênção de Isaque Como Despedida (27:46-28:5)

Agora retornamos à fonte Sacerdotal. Alguns expositores acham que o narra­dor deste relato não tinha conhecimento dos acontecimentos de 27:1-45. A aten­ção é chamada para o fato de que Isaque, em aparente contradição com a passa­gem precedente, revela os seus sentimen­tos duros em relação a Jacó. É bem pro­vável, contudo, que Isaque era a espécie de homem que podia perdoar e não guardar ressentimento contra o seu filho. A sua atitude para com Rebeca pode ter sido outro assunto, pois certamente ele ficou sabendo de quem era a mão que preparara tudo.

Para que venhas a ser uma multidão de povos. A palavra qahal (multidão) é a costumeiramente usada no Velho Tes­tamento para designar assembleia, con­gregação. Ela é usada aqui pela primeira vez. Mais tarde ela se tornará a palavra de onde se origina “igreja”. Aqui, a ênfase é dada à “coerência tanto quanto à multiplicidade” (Kidner, p. 158). Da mesma forma como Abraão fora o pai dos fiéis, dos crentes diante de Deus, individualmente, Jacó se tornaria o pai de Israel, o povo de Deus, a congregação reunida. É bem possível que esta passagem antecipe “a comunidade de nações universal, escatológica e temente a Deus” (Von Rad, p. 277).

Bibliografia Clyde T. Francisco

Fonte: EBD Areias



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