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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Lição 05 - Jacó se casa com Raquel

Lição 05

29 de Janeiro de 2012


Texto Áureo

“E Jacó beijou a Raquel, e levantou a sua voz e chorou”. Gn 39.11

Verdade Aplicada

“O casamento é uma bênção que homem e mulher rece­beram de Deus no Jardim do Éden, e deve ser constituído na vontade do Senhor”.

Objetivos da Lição

►      Mostrar que Deus se interessa pelo relacionamento do casal;
►      Ensinar que o casamento é uma bênção divina; e
►      Demonstrar que as nossas ex­periências estão sob a direção do Espírito Santo.

Textos de Referência

Gn 29.20   Assim, serviu Jacó sete anos por Raquel; e foram aos seus olhos como poucos dias, pelo muito que a amava.
Gn 29.22   Então, ajuntou Labão todos os varões daquele lugar e fez um banquete.
Gn 29.23   E aconteceu, à tarde, que tomou Léia, sua filha, e trouxe-lha. E entrou a ela.
Gn 29.25   E aconteceu pela manhã ver que era Léia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso? Não te tenho ser­vido por Raquel? Por que, pois, me enganaste?
Gn 29.27   Cumpre a semana desta; então te daremos tam­bém a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos servires comigo.
Gn 29.28   E Jacó fez assim e cumpriu a semana desta; então, lhe deu por mulher Raquel, sua filha.

Ajuda Versículos

Ajuda 1

Os Casamentos de Jacó em Arã (Gn 29.1-30)

Os críticos veem um entretecido de tradições neste capítulo, atribuindo os vss. 1-14 à fonte informativa J, a maior parte dos vss. 15-30, à fonte E, e os vss. 29.31-30.24, a uma mescla das fontes J e E, com vários comentários e emendas editoriais.

Jacó conheceu Raquel, sua esposa querida, no Oriente (vs. 1), a parte norte do deserto da Arábia, em Arã, terra natal de Labão, pai de Lia e Raquel. Labão era um arameu seminômade, neto de Naor, irmão de Abraão. Abraão havia deixado o lar da família, em Arã, e tinha entrado na Terra Prometida (Gn 12.4 ss.). Parte da família (oriunda de Ur) permaneceu em Arã, a saber, Naor e seus descendentes. Havia algum contato entre os dois ramos da família. O servo de Abraão fora até Arã, que ficava cerca de setecentos e cinquenta quilômetros de distância, o que requeria uma viagem de cerca de trinta dias, a fim de ali obter uma noiva para Isaque (cap. 24). Rebeca, a noiva, viajou até Berseba e foi absorvida na família de Abraão. Agora era a vez de Jacó entrar em contato com o ramo da família que ficara em Arã. Mas estava destinado a permanecer ali por cerca de vinte anos. Cada homem tem seu destino; cada pessoa tem seu cronograma. Jacó moveu-se em várias direções, durante a sua vida: para o sul, até Hebrom; para oeste, até Betel e Siquém; para o norte, até Arã; e, então, de volta para o sul. Em Siquém, ele se tomou o pai de José, e assim foi continuando a história dos patriarcas.

Tal como o servo de Abraão, Jacó encontrou-se com sua futura esposa perto de um poço, e ali teve início uma das mais inspiradoras histórias de amor de todos os tempos. Dessa vez, foi Jacó quem se ocupou em servir água, e não a mulher (Rebeca), conforme se vê na história paralela anterior. Jacó, tomado de grande emoção, osculou imediatamente a sua prima e, por ter tal mulher nos braços, chorou em voz alta.

O diálogo revelou o fato de que ela era sua prima (tal como na história anterior, Gn 24.47 ss.). Pormenores da história que se segue são similares ao relato do capítulo vinte e quatro. Houve muito júbilo, e Jacó foi regiamente recebi­do. Isso armou o palco para os casamentos de Jacó, e para ele ser enganado, para variar. Sempre nos encontramos conosco mesmos, apesar de nossos peca­dos nos serem perdoados.

29.1

Pôs-se Jacó a caminho. Ou seja, de Betel a Harã, cerca de setecentos e cinquenta quilômetros. Ele deve ter gasto uns vinte dias, ou algo mais, para cobrir essa distância.

Oriente. Ou seja, a parte norte do deserto da Arábia. Mas tendo como ponto de partida a sua terra, era a direção nordeste. Já eram terras da Mesopotâmia, a leste da terra de Canaã (ver Is 9.11), pelo que é dada essa direção. O território para além do Eufrates era chamado kedem (oriental), nos escritos sagrados. Algumas vezes o território dos árabes também era assim designado.

29.2

Eis um poço. Presumivelmente, o mesmo diante do qual chegara o servo de Abraão, na missão para obter noiva para Isaque. Mas alguns estudiosos preferem pensar em outro poço. Poços e cisternas revestem-se de capital importância nas áreas desérticas. Há boa chance de que tenha sido feita, de modo positivo, a identificação do poço em pauta, veja Gn 24.11. O capítulo vinte e quatro do Gênesis é uma espécie de tratado sobre a liderança divina. Neste capítulo vinte e nove a ênfase sobre isso é atenuada, mas compreendemos essa verdade sem termos de ser continuamente lembra­dos a respeito.

Grande pedra. Não visava a impedir a saída da água da fonte perene. Antes, servia para impedir que alguma pessoa ou animal caísse no poço. Ou, então, impedia que entulho ou areia caísse na água, sujando-a.

29.3

Como Era Removida a Pedra? Vários homens rolavam a pedra para um lado. Aos animais dava-se água. Então a pedra era reposta em seu lugar. Uma tarefa laboriosa, mas necessária. Um homem rico como Labão, sem dúvida, dispunha de vários homens que fizessem esse trabalho. Era preciso mais de um homem para remover a pesada pedra. Talvez por isso as mulheres estivessem isentas desse trabalho. O relato do capítulo vinte e quatro não menciona uma pedra assim, além do que, ali, parece que Rebeca fez todo o trabalho, observada pelo servo de Abraão. Isso dá a entender que seria um poço diferente.

29.4

Os Estranhos da Cidade de Labão. Não eram amigos de Jacó nem da família de Labão. Mas eram pastores, e, portanto, “irmãos de profissão”. Jacó chamou-os de “irmãos” por querer ser amigável. E procurou saber se lhe poderiam dar algu­ma informação sobre Labão. De fato, eles conheciam Labão, além do fato de que em breve chegaria Raquel, filha de Labão, para dessedentar primeiro às suas ovelhas. Talvez isso não se devesse ao fato de que Raquel fosse mulher, mas sim de que Labão tivesse alguma prioridade sobre o uso do poço.

O Problema do Idioma. A família de Jacó era de Ur e falava um idioma semítico (o caldaico). Os habitantes de Arã também eram semitas, e havia muita intercomunicação entre os dois lugares. Isso posto, não há razão para pensarmos que houve entre Jacó e os naturais da região algum problema sério de linguagem. Talvez já existisse um hebraico primitivo, mas não era muito diferente dos outros idiomas semíticos. Ver Gn 31.47 quanto a alguma diferença de linguagem entre os dois ramos da família. Nossa versão portuguesa e outras dizem aqui Harã.

29.5

Labão. Ele era sobrinho de Abraão, filho de Betuel, e pai de Raquel. O texto chama-o aqui de “filho de Naor”, mas isso indica uma designação frouxa para “neto”. Talvez Betuel já tivesse falecido, e Naor fosse o mais bem conhecido patriarca da família. Seja como for, Labão era bem conhecido em Arã, e foi fácil para Jacó descobri-lo. Naor era o fundador daquele ramo da família, e o imigrante original chegado de Ur (da família de Terá). Portanto, seu nome continuava em evidência, e um seu neto podia ser chamado de filho.

29.6

Ele está bom? Labão estava em boa saúde, e o diálogo tocou primeiro em questões como essa, tal como em tempos modernos. Talvez esse termo também significasse próspero. Labão estava bem e estava em boa situação. No hebraico, temos hashalom, “em paz”, que tem essas conotações.

Raquel. Esse nome significa ovelha. Devia ser seu nome original, e não algum apelido adquirido em face de sua ocupação. Por pura sorte, enquanto Jacó falava com os homens, Raquel chegou. Naturalmente, nada sucede por acaso. No trecho paralelo de Gn 24.42 ss.; temos uma história elaborada e dramática sobre como Deus trouxera Rebeca para vir ao encontro do servo de Abraão. Se isso não aconteceu aqui, estamos acompanhando a mesma providência divina.

29.7

É ainda pleno dia. O sol ainda estava alto no céu. Os animais abrigavam-se na pouca sombra que havia, esperando pela hora de receber água. Jacó pensou que era chegado o momento certo de tirar água, e indagou por que aquela demora. Mas é que havia uma rotina que os pastores costumavam observar. Reuniam-se os diversos rebanhos, incluindo o de Labão (guiado por Raquel). Ela tirava água para seus animais primeiro, e, então, os outros faziam a mesma coisa. Ou Labão era o proprietário do poço ou tinha alguma prioridade sobre eles, embora isso não seja explicado. Primeiro dessedentavam-se os animais, e então estes podiam ir pastar nos campos.

29.8

Seja removida a pedra da boca do poço. Os pastores com os quais Jacó se encontrou não tinham autoridade para remover a pedra. Havia uma certa sequência de atos. É provável que eles fossem servos ou pastores de Labão, e tivessem de esperar por Raquel, a pastora. Ou, então, para evitar que a água se sujasse, a pedra era rolada quando todos os rebanhos se reuniam. E, então, começava o processo.

29.9

Chegou Raquel. Um grande momento pelo qual Jacó tanto esperara, e que foi divinamente arranjado para ele. Parece que ele cairá bem no meio dos aconteci­mentos, mas Deus providenciara o encontro. Raquel seria uma das matriarcas da nação de Israel. O versículo mostra-nos que Jacó não a conhecia ainda, mas o diálogo com os pastores (mencionado no vs. 6) permitiu que ele a reconhecesse quando ela chegou. E também é possível que um dos pastores tenha dito: “Eis aí Raquel”.

As mulheres, ao que parece, não eram mantidas em reclusão e tão abrigadas como hoje se vê naquela parte do mundo, graças à influência do islamismo. Note-se também que, apesar de Labão ser um homem rico, não estava abaixo da dignidade de sua filha cuidar de ovelhas. Todo trabalho honesto é digno. “O trabalho honesto, longe de ser um descrédito, é uma honra para grandes e pequenos... que todo filho e toda filha aprendam que não é um descrédito manter-se alguém ativo, sempre que isso for mister, ainda que seja no labor mais humilde, mediante o qual os interesses da família sejam honestamente promovidos” (Adam Clarke, in ioc.). Homero (lliad. vol. 1, vs. 313, 2:6 vs. 2) diz algo similar sobre os filhos do rei de Tebas, que cuidavam dos rebanhos dele.

29.10

Tendo visto Jacó a Raquel. Ele a amou desde o começo, e imediatamente começou a trabalhar em favor dela, sem que tivesse sido feito qualquer pedido nesse sentido. Assim começou uma das mais comoventes histórias de amor de toda a literatura mundial.

Removeu a pedra. É provável que o texto signifique que ele, ao tomar a iniciativa, com a ajuda de outros, fez rolar a pedra. Ali estava Jacó, o irmão gêmeo mais fraco (não Esaú, o rapaz do campo), a rolar sozinho a grande pedra, se tivermos de entender literalmente a passagem. Como ele conseguiu esse feito? Ele simplesmente viu Raquel, e qualquer tarefa dali por diante tornar-se-ia fácil. A partir do instante em que a viu, tornou-se um homem diferente. Começou imedia­tamente a servir, por amor.

Casamentos dentro da Família de Abraão. Abraão casara-se com sua meia-irmã (Gn 20.12). Naor, irmão dele, casara-se com uma sobrinha (Gn 11.29). Isaque casara-se com uma prima. E agora, Jacó casar-se-ia com duas primas. As proibições da legislação mosaica, de tem­pos posteriores, não tinham aplicação durante os dias dos patriarcas hebreus. Ver Levítico 18 e 20. Rebeca era neta-sobrinha de Abraão (Gn 22.20 ss.). Portanto, temos aí uma família com bem apertados laços de parentesco, onde apenas Esaú fugiu da norma.

O Targum de Jonathan diz que Jacó rolou a pedra do lugar com um só braço, fazendo um trabalho que usualmente requeria vários homens. Jarchi diz que ele fez a tarefa com facilidade, como uma pessoa que removesse a tampa de uma panela. O amor realiza grandes coisas!

29.11

Primos que se Beijaram. John Gill (in Ioc.), escreveu: “o que ele fez com cortesia e civilidade”. Um beijo em família. Mas qual homem que beijasse uma prima por mera cortesia levantaria sua voz e choraria? Houve no momento profun­da emoção, resultante de um imediato e grande amor.

Jacó sentiu-se feliz ao término de sua jornada. Feliz diante da providência divina; feliz por estar entre seus parentes, visto que se encontrava tão longe de casa. Mas sua maior felicidade era ter conhecido Raquel. Adam Clarke comen­tou sobre o antigo costume social de oscularem-se as pessoas, como uma forma de saudação, além de mostrar quão iníquos e hipócritas são os homens corruptos, para quem o beijo se tornou algo sensual.

29.12

Revelação dos Laços de Família. O filho de Rebeca encontra-se com a filha de Labão. Jacó e Raquel — uma das maiores histórias de amor que já foi conta­da. Raquel saiu correndo para contar a seu pai da chegada de Jacó. Isso é paralelo ao afeto demonstrado por Rebeca, em Gn 24.28.

Parente. Algumas versões dizem aqui, “irmão”. Mais especificamente, ele era “sobrinho” de Labão. Ver Gn 13.8 e 29.5,15, quanto a esse uso frouxo do termo. Não há menção à mãe de Raquel, a qual talvez já tivesse falecido. Ou uma mulher mais jovem esteve envolvida, mas não foi mencionada.

29.13

Labão. Labão veio correndo ao encontro de seu sobrinho, Jacó. Na ocasião, nenhum deles ainda sabia, mas Jacó haveria de servir fielmente a seu tio por cerca de vinte anos. Estes versículos antecipam os capítulos 30 e 31 do Gênesis. Os rebanhos de Labão seriam pastoreados pelo hábil Jacó. Sem importar seus defeitos, Jacó nunca foi um preguiçoso. Em contraste com os preguiçosos pastores de Labão (Gn 29.7,8), Jacó era ativo, zeloso e consciente.

Este versículo tem paralelo em Gn 24.29, onde Labão também correu até o poço, para saudar ao servo de Abraão. Naquele caso, ele primeiro vira e admirara as joias que o servo de Abraão havia trazido para Rebeca. Neste caso, ele admirava a Jacó, que seria um seu excelente empregado.

Fazia setenta anos que Rebeca, irmã de Labão, tinha partido de casa para ser integrada à família de Abraão. Dessa vez, sua família é que integraria um membro da família de Abraão. Parece que Labão tinha filhos e filhas mais jovens que Ra­quel, apesar de ser homem já de idade avançada. Talvez ele se tivesse casado com uma esposa mais jovem, não especificada. Há menção a filhos dele, em Gn 31.1.

Jarchi diz que Labão correu na esperança de receber outros presentes: di­nheiro, joias etc., conforme sucedera por ocasião do noivado de Rebeca. Mas acolher Jacó para que este o servisse por vinte anos foi um ótimo presente. Não há razão para duvidarmos da sinceridade de sua hospitalidade. Todos os homens têm seus pontos fortes e fracos.

29.14

És meu osso e minha carne. Um parente próximo, que ficou a descansar por trinta dias, algum trabalho a fazer, mas abundante e bom alimento, um bom lugar para dormir, um leito confortável etc. Mas terminados aqueles trinta dias, Labão resolveu pô-lo a trabalhar (vs. 15), assalariado, naturalmente. Jacó fez a sua contraproposta. “Servirei, trabalharei, labutarei por sete anos, por Raquel” (vs. 18). Provavelmente ele já estava ocupado em sua profissão, cuidando das ove­lhas de Labão, mas agora assumiria maiores responsabilidades, tornando-se um empregado assalariado, apesar do fato de ser parente próximo.

29.15

Irás servir-me de graça? Labão não era tão egoísta assim. Jacó já estava trabalhando, em troca de nada, excetuando cama e mesa. Labão propôs um salário. Mas Jacó respondeu: “Não um salário, mas Raquel”. Podemos supor que ainda assim foi oferecido um salário pelos sete anos de trabalho, mas Raquel era o principal prêmio. Aquele mês dera a Labão oportunidade de observar Jacó a trabalhar. E ficou satisfeito com o que vira. E agora queria garantir seus serviços indefinidamente. É bom quando o serviço de um homem é apreciado. A tendência dos homens é depreciar e degradar, mas não foi o que Labão fez com Jacó.

Meu parente. Essa questão já foi comentada no vs. 12.

A Oportunidade de Jacó. A providência de Deus incluiu um emprego para Jacó, com um salário justo.

29.16

Duas filhas. Jacó, o enganador, estava a caminho de sofrer um tremendo logro. Por outra parte, visto que ele se casou com Lia e com Raquel quase ao mesmo tempo (ele teve de trabalhar por Raquel por mais sete anos, mas pôde casar-se com ela, uma semana após ter-se casado com Lia, vs. 28), em certo sentido, Jacó saiu ganhando. Naturalmente, ele precisou trabalhar durante cator­ze anos, pelo que Labão também recebeu uma boa vantagem. Lia era uma mulher de aparência comum, mas de belos olhos; e era uma pessoa digna. Não devemos esquecer que ela estava destinada a ser uma das matriarcas de Israel (um de seus filhos, Judá, é ancestral de Jesus). Raquel, por sua vez, era bonita e vivaz, uma mulher muito bonita, para dizermos o mínimo. E também estava desti­nada a ser uma das matriarcas de Israel. Portanto, Jacó nada tinha para queixar-se, ao mesmo tempo em que o propósito de Deus atuava sobre ele quanto a ambos os seus casamentos.

Lia. O nome dela significa “labor” ou “cansaço", por razões desconhecidas. Mas, na antiguidade, tal como entre nós, os nomes eram, com frequência, escolhidos sem que se desse atenção ao seu significado.

29.17

Os olhos baços. O adjetivo, no hebraico, significa suaves, delicados, bonitos ou envergonhados (rak). Poderíamos dizer apenas “bonitos”. Lia tinha olhos boni­tos, mas Raquel tinha tudo mais, bem feita de corpo, natureza vivaz, alguém que, naturalmente, atraía a atenção de todos, mormente dos homens que dão valor à beleza feminina. Lia tinha a personalidade um tanto apagada. Raquel brilhava. Onkelos supunha que a beleza de Lia se resumia a seus olhos, mas a beleza de Raquel manifestava-se em tudo. Ben Melech referiu-se aos belos cabelos negros de Raquel, e de sua pele branca e de textura suave. Ela era o prêmio, o bem de que nos falou Salomão (ver Pv 18.22). Adam Clarke (in loc.), exagerou quanto a esse ponto, ao falar sobre a vaidade das mulheres modernas, estragadas por demasiada educação e atenção, ao passo que as mulheres antigas seriam, invari­avelmente, o bem aludido por Salomão.

Ellicott reverte o sentido do adjetivo acerca dos olhos de Lia, fazendo-os “baços" (conforme faz nossa versão portuguesa) e sem graça, supondo que ela teria sofrido alguma forma de doença ocular na infância, por causa dos desertos arenosos. E outros intérpretes concordam com essa avaliação negativa da pala­vra hebraica envolvida, a qual pode ter tanto um sentido positivo quanto um sentido negativo. A julgar por um dos significados possíveis desse adjetivo hebraico, talvez o olhar de Lia fosse “pudico”, “modesto”. O contexto parece estar dizendo: “Lia tinha esta característica boa e notável — seus belos olhos. Mas Raquel tinha muitas características de beleza feminina”.

O Messias é descendente de Lia, e não de Raquel.

Formosa de porte e de semblante. Nossa versão destaca mais a impres­são visual que se tinha de Raquel. Mas há intérpretes que opinam que o original hebraico diz que todos se sentiam atraídos por ela devido à sua personalidade atrativa. As traduções estão divididas quanto a essa questão.

29.18

Jacó amava Raquel. Naqueles dias em que já passara na casa de Labão, seu amor por Raquel se acentuara.

A Linhagem do Messias. Entre os filhos de Lia devemos destacar Judá, ancestral de Jesus. Assim, o Messias descendia não da bela Raquel, mas da comum Lia. A decisão divina sobre a questão, porém, nada teve que ver com o amor romântico de Jacó por Raquel, nem com a relativa negligência dele para com Lia. As decisões divinas dependem de coisas superiores a essas.

Trabalhando para Ganhar uma Esposa. A arqueologia e a literatura antiga confirmam o fato de que um homem podia obter esposa através do seu traba­lho, de conformidade com um acordo que se fizesse entre o homem e o pai da jovem. Os estudiosos dizem que esse costume prevalece até hoje entre os árabes, embora apenas ocasionalmente. Uma esposa também podia ser com­prada, conforme se vê em Gn 24.53. Essa venda era com frequência velada (de acordo com as sutilezas orientais), como se algum presente estivesse en­volvido, que é o caso destacado no capítulo vinte e quatro. O trecho de Gn 31.15 mostra-nos que Raquel e Lia consideravam-se vendidas por seu pai a Jacó. Assim, o trabalho efetuado por Jacó, durante catorze anos, não visou apenas a agradar a Labão, para obter as suas filhas como esposas, mas, antes, foi uma forma de compra.

29.19

Labão Não Demonstrou Entusiasmo. Pelo menos não abertamente, embora talvez a proposta lhe tenha agradado. O negócio era-lhe favorável. Mas ele ocultou o seu entusiasmo, se é que se entusiasmou. E disse: “Antes tu que outro homem!”. Estou imaginando que foi um preço tremendo em troca de uma mulher. Contraste-se isso com os presentes que o servo de Abraão trouxera para obter Rebeca. Teria ele trazido joias e presentes equivalentes a sete anos de trabalho?

A arqueologia e as referências literárias antigas indicam que os povos daque­la região preferiam ter casamentos entre parentes, o que sem dúvida estava acontecendo à família de Abraão.

29.20

Serviu Jacó sete anos. Um longo tempo, de fato, mas, na mente e nos sentimentos de Jacó, tudo foi como um dia, porque a mulher por quem ele estava trabalhando era muito valiosa para ele. Assim acontece também com aqueles que têm algum grande projeto a realizar. O entusiasmo faz toda a diferença. Alguns dizem que a perseverança faz a diferença, mas é o entusiasmo que sempre está por trás da verdadeira perseverança.

Os eruditos supõem que Jacó estivesse com cinquenta e sete anos de idade na época. Mas os patriarcas casavam-se tarde, por razões difíceis de precisar. Por certo não atingiam logo a maturidade e, devido à sua longa vida, não tinham pressa para casar, e nem os costumes sociais da época os pressio­navam nessa direção. Assim, não temos regras fixas que guiem nosso raciocí­nio a respeito.

Sete anos. Para Jacó, esses anos passaram-se com rapidez, por amor a Raquel. Tudo quanto ele tinha passado era como “nada”. Além disso, ele passava muitas “horas agradáveis” em conversa com Raquel. Assim, o tempo “passou-se rapidamente” (conforme comentou John Gill, in loc.).

29.21

Já venceu o prazo. “Dá-me minha mulher'', e assim, “cumpre a tua parte na negociação”. Jacó havia dado por sua esposa um dote não com forma de dinhei­ro, mas com forma de trabalho. Mas aqueles anos de trabalho valiam muito, do ponto de vista monetário.

“Era chegado o tempo de ele ficar com ela” (John Gill, in loc.). Alguns intér­pretes judeus pensam que ele estaria então com oitenta e quatro anos de idade; mas a estimativa mais baixa é de cinquenta e sete anos. Fosse como fosse, era chegado o tempo do casamento, de acordo com o negociado entre Jacó e Labão. O amor fez esse tempo parecer “poucos dias” (vs. 20). Mas acordos são acordos.

“É interessante que as esposas dos três primeiros patriarcas eram mulheres bonitas: Sara (Gn 12.11), Rebeca (Gn 24.15,16) e Raquel (29.17)” (Allen P. Ross, in loc.). A paixão de Jacó por Raquel não permitiria maior prazo.

29.22

A Festa e a Farsa. Jacó encontrou em seu tio quem pudesse enganá-lo. Foi preparada uma grande festa, mas estava sendo planejada uma grande farsa. Lia, e não Raquel, é quem estava esperando casamento. Um costume local prevale­ceria sobre o acordo feito. Labão tivera o cuidado de não revelar que seguiria esse costume local de dar, em casamento, primeiro a filha mais velha, nesse caso, Lia.

Uma festa assinalava ocasiões solenes, como pactos e casamentos, além de servir de ponto de contato social, mesmo que só estivesse em pauta uma questão de amizade, sem outro motivo especial. Os banquetes também faziam parte das principais festividades religi­osas dos judeus.

Com frequência, sacrifícios e ofertas acompanhavam os banquetes de casa­mento, visto que o matrimônio era considerado um contrato solene.

Todos os homens do lugar. Ou seja, de Padã-Arã. Foram convidados os homens de maior importância, além de seus amigos pessoais. Portanto, a festa foi um grande momento público, não envolvendo apenas a família imediata de Labão.

29.23

Lia Toma o Lugar de Raquel. Labão levou sua filha Lia, e não Raquel. De acordo com os costumes locais, ele agiu acertadamente. Mas também poderia ter feito a coisa certa da maneira certa, ou seja, com honestidade. Teria Jacó feito objeção, desde o princípio, se tivesse sabido que teria de trabalhar por duas mulheres, sete anos por cada uma? Provavelmente, não; mas também é possível que, quando a barganha fora feita, Labão não tivera a intenção de ser tão generoso. Todavia, repreendido por Jacó, também acabou entregando Raquel, uma semana mais tarde (vs. 27). De qualquer modo, o véu oriental usado pelas mulheres e a falta de iluminação no interior da tenda permitiram que Labão enganasse Jacó com sucesso. A noiva era trazida velada ao noivo (ver também Gn 24.65).

Cf. o caso de Jacó com o de Isaque. Isaque pôde ser enganado por estar cego, como se estivesse às escuras. Jacó também foi enganado devido às trevas. Onde houver ludibrio, aí haverá também trevas espirituais.

O costume da época determinava que o noivo fosse deitar-se primeiro. Então a noiva era trazida até ele, usando véu. Somente no escuro o véu era tirado.

29.24

Para serva. As mulheres de círculos mais abastados recebiam uma “ser­va". conforme se viu no caso de Hagar e Sara. Na maior parte dos casos, essa serva era uma escrava. Por assim dizer, não se separava da dona da casa, acompanhando-a enquanto esta vivesse. Ela não tinha direitos próprios, exceto aqueles dados por sua senhora. Tão próxima era ela de sua senhora que poderia ter filhos do marido desta última, embora esses filhos, legalmente, fos­sem considerados filhos da senhora. Essa jovem, dada à senhora da casa, não era governada pelo homem. Todos os direitos sobre ela pertenciam à esposa conforme se vê em Gn 16.6). Sara mostrou-se cruel com Hagar, mas Abraão não interveio, porque não tinha autoridade sobre a questão. Betuel tinha dado a Rebeca uma companhia dessas, Débora, além de outras escravas (Gn 24.61). A tradição judaica diz que Zilpa fora concubina de Labão. Mas isso é altamente improvável.

Zilpa. No hebraico, terra baixa. Era uma jovem escrava que foi dada por Labão a Lia, por ocasião do casamento desta com Jacó. Posteriormente, a pedido da própria Lia, tornou-se esposa secundária ou concubina de Jacó. Zilpa foi mãe de dois filhos, Gade e Aser (Gn 29.24; 30.9-13; 35.26; 37.2; 46.18). Ela viveu em tomo de 1730 A. C. Assim, aquela humilde jovem tornou-se uma das matriarcas de Israel. Se as tradições judaicas estão certas, então Zilpa e Lia eram meias-irmãs, embora não haja como averiguar essa teoria. Parece improvável, contudo, que uma concubina de Labão tivesse vindo a ser uma concubina de Jacó, posto que sucedem coisas estranhas, e que o incesto não era algo que perturbava os antigos dos dias de Abraão.

29.25

Ao amanhecer viu que era Lia. A luz do dia revelou a fraude, mas era tarde demais. Agora chegara a vez de Jacó protestar veementemente por ter sido iludido, tal como Esaú reclamara ao ser enganado (Gn 27.35 ss.). Esaú se enchera de ódio e de vontade de matar seu irmão (Gn 27.41 ss.), o que dera azo para que Jacó fosse para o exílio. Jacó não pensou em assassinato, mas podemos estar certos de que bradou ao máximo, manifestando a sua indignação. O acordo havia sido desrespeitado. Jacó fizera a sua parte, mas Labão falhara. A luz do dia sempre revela as fraudes. A luz faz o pecado dispersar-se. John Gill pensa que o que sucedeu foi adultério (e também incesto), visto que Jacó se deitara com uma mulher que não era sua esposa, além de ser irmã da mulher com quem ele se casara. Mas Labão não via as coisas por esse ângulo. As pessoas definem as coisas de diferentes maneiras, mas isso não faz do pecado uma questão relativa. Jacó estava colhendo o que tinha semeado.

29.26

Um Costume Local. O conservantismo frustrou o bom senso. O costume foi observado, à revelia de qualquer outro fator. John Gill negou que houvesse algum costume assim, e nenhuma de minhas fontes informativas revela qualquer coisa. Mas este versículo o menciona, embora a arqueologia nada tenha descoberto, Adam Clarke encontrou um costume hindu dessa natureza, que ele chamou de “lei positiva”. Se havia tal costume entre o povo de Labão, então ele enganou Jacó (no tocante a Raquel) desde o começo; ou, talvez, no decurso dos anos, pensou no golpe astucioso, tirando proveito de um costume, que ele valorizou mais que seu acordo com Jacó. E também enganou seus convidados, porque eles viram o casa­mento de Jacó e Raquel. Podemos supor que Lia também fez parte do conluio, ou, peto menos, obedeceu à voz de seu pai, tal como Jacó havia obedecido à palavra de sua mãe, Rebeca, cooperando com o engano pespegado contra Isaque (Gn 31.15 ss.). Lia amava Jacó (Gn 30.15), e deve ter cooperado com satisfação.

Os Costumes Prevalecem. O conservantismo nem sempre está com a razão. novas ideias, ainda que úteis, com frequência são tabus. As escolhas são limitadas por mentes limitadas. Alguns costumes precisam ser desafiados e alterados. Outros precisam ser testados e aprovados; novos costumes precisam ser introdu­zidos. O tempo permite crescimento, não meramente preservação.

29.27

A Solução Fácil. Raquel também seria dada a Jacó, mas isso custaria a Jacó mais sete anos de serviço. Mas que significavam catorze anos de serviço, se ele veio a servi-la a vida toda?

Decorrida a semana desta. Ou seja, os sete dias de banquete do casamen­to (Jz 14.12 e Tobias 11.18). É difícil ver como aquela semana poderia ser de Lia, se todos os convidados tinham vindo para o casamento de Raquel. Mas a semana foi de Lia. Talvez não houvesse votos formais, como nas cerimônias de matrimônio modernas, e a jovem que entrasse na tenda de um homem, essa seria a sua esposa. Nesse caso, não houve nem adultério nem incesto. Nossa falta de conhecimento não nos permite dizer alguma coisa indiscutível sobre esse casa­mento de Jacó. “Infelizmente, Jacó não é o único crente que tem precisado de um Labão a fim de discipliná-lo” (Allen P. Ross, in loc.).

29.28

Labão lhe deu... Raquel. Esta custou a Jacó um dote maior (sob a forma de sete anos de trabalho), mas ele também não reclamou por essa parte. Ade­mais, de súbito ele tinha ganho quatro mulheres, que seriam as matriarcas da nação de Israel (vs. 29). A legislação mosaica proibia o casamento com uma irmã da primeira esposa (Lv 18.18), mas isso já pertenceu a uma época posterior. Se um homem podia casar-se com sua meia-irmã, como foi o caso de Abraão (Gn 20.12), então casar-se com duas mulheres que eram irmãs entre si, e primas do noivo, não pareceria coisa estranha.

A Grande Vitória. Jacó havia obtido uma grande vitória, pela qual também muito se tinha esforçado, com toda a paciência e perseverança, durante sete longos anos. O segredo da vitória é a perseverança inspirada pelo entusiasmo, bem como a paciência para esperar uma grande realização, mediante o trabalho árduo.

29.29

Bila. Juntamente com Lia, Jacó obtivera Zilpa; e agora, com Raquel, obtinha Bila. As duas servas não se tornaram de imediato suas concubinas, mas isso não demoraria muito. Abraão tinha ganho Hagar como concubina, pelo que vemos que estava envolvido um costume arraigado.

Bila era, nas páginas do Antigo Testamento, o nome tanto de uma pessoa quanto de uma cidade. Esse nome significa tema ou timidez. Ela veio a ser mãe de e de Naftali (Gn 30.1-8; 35.25; 46.25; I Cr 7.13). Embora fosse apenas uma serva, tornou-se uma das matriarcas da nação de Israel.

Visto que o Messias procedeu da tribo de Judá, Lia foi a escolhida para dar continuidade à linhagem espiritual direta do Pacto Abraâmico.

29.30

Jacó amava mais Raquel. As mulheres daquele tempo não pareciam ter ciúmes relativos aos privilégios sexuais. Mas mostravam-se sensíveis acerca de qual mulher era mais amada, conforme vemos em Gn 29.32. Ademais, era muito importante para a mulher que ela fosse fértil, pelo que havia competição quanto ao número de filhos que uma mulher desse a seu marido (Gn 30.1 ss.). O capítulo trinta mostra uma vivida competição entre Lia e Zilpa, por um lado, e Raquel e Bila, por outro lado. Qual das duas mulheres seria capaz de produzir mais filhos? Essa competição deu origem aos doze filhos, alistados no capítulo trinta, os quais vieram a ser os patriarcas de Israel. Vemos aqui um drama comum da humanidade — o anelo humano por amor e reconhecimento. Esse reconhecimento inclui a questão de posição, motivo pelo qual essas questões sempre envolvem o orgulho. As pessoas dispõem-se a pagar um alto preço por essas coisas. Sementes amargas estavam sendo plantadas no seio da família patriarcal, devido à forte competição prevalente. É triste quando isso macula uma família. Neste mundo já há bastante dessa desgraça.

Raquel foi o primeiro amor de Jacó. Mas não foi a primeira a ficar grávida dele. Ademais, Lia teve seis filhos, ao passo que Raquel só teve dois. Mas Raquel sempre ocuparia o primeiro lugar no coração de Jacó. Ela morreu de parto, ao ter seu segundo filho, Benjamim. José, seu primeiro filho, seria o favorito de Jacó. E José teria uma carreira ilustre, posto que muito acidentada.

Bibliografia R. N. Champlin

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